Trabalho forçado e capitalismo criminoso: o caso dos “prisioneiros” no estado de Chihuahua, México (1984)

Resumo

Os milhares de toneladas de droga apreendidas no Rancho El Búfalo, localizado no estado de Chihuahua, no norte do México, não foram a única situação que surpreendeu o exército a 6 de Novembro de 1984. A descoberta de milhares de camponeses presos em campos, forçados a processar drogas sob coacção de armas, descobriu formas extremas de exploração ao serviço do capitalismo criminoso. Tomando este episódio como um estudo de caso, o objectivo geral desta investigação é compreender quais foram os factores sociais e económicos que favoreceram a emergência do trabalho forçado como instrumento do crime organizado e como este se relaciona com os processos de acumulação de capitalismo criminoso. Para uma base conceptual, as normas da Organização Internacional do Trabalho são retomadas. Na parte teórica, o conceito de acumulação por expropriação de David Harvey é explorado a fim de compreender os mecanismos de expropriação do valor do trabalho e dos bens colectivos no capitalismo radical. Não existem registos oficiais para a sua quantificação, mas este artigo procura recuperar provas deste problema através de uma revisão hemerográfica que inclui os meios de comunicação regionais e nacionais da época. O método utilizado é uma análise da trajectória histórica do tráfico de droga no México: desde a sua génese na década de 1940 até aos tempos contemporâneos.